terça-feira, 13 de julho de 2010

O CICLO DO PEIXE - Calçoene - Parte III


Calçoene e o Ciclo do Peixe

Basta um passeio pela rua da Agulha para perceber que Calçoene começa a destacar-se na indústria pesqueira. Moradores e visitantes que torcem pelo desenvolvimento de uma região que com suas minas de ouro enriqueceu muitos estrangeiros, poucos brasileiros e praticamente nenhum garimpeiro durante um século de intensa exploração do minério, ficam empolgados ao saber que o município está beneficiando uma média de 250 toneladas de peixe por mês. Mas tal estatística está muito aquém da realidade, pois é contabilizada a partir das duas empresas frigoríficas do município onde é feito o beneficiamento. Lá o peixe é pesado, tem a quantidade e tipo inscrito nos livros de registros, passa pelo beneficiamento, e tem a guia de trânsito expedida cuja receita fica no próprio município.

Se for levado em conta que há um número considerável de compradores que beneficiam o pescado em outras cidades, a média de toneladas de peixe que sai a partir de Calçoene é de longe muito superior a estas 250 toneladas. Não seria devaneio pensar que um novo ciclo desponta no horizonte econômico calçoenense: “o ciclo do Peixe”.

Desembarque de peixes
Após 15 dias em alto-mar pescadores e barqueiros desembarcam no porto da empresa Calçomar. São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza e Minas Gerais são algumas cidades que compram peixe beneficiado em Calçoene

Aportadas principalmente na orla da rua da Agulha, onde estão situadas as duas empresas frigoríficas que fazem o beneficiamento do pescado, embarcações de médio e grande porte desembarcam o fruto do trabalho de quinze dias em alto mar. A clientela de grandes e pequenos compradores chega a comprometer o trânsito na estreita rua e os barqueiros a partir do momento que aportam só param de trabalhar quando as urnas dos porões das embarcações estão limpas.
Para atender a necessidade de grandes compradores, o beneficiamento do peixe é feito em um dos frigoríficos com inscrição no SIF, pois compram em número de toneladas. Para se ter idéia um barco frigorífico de grande porte pode trazer até 25 toneladas de peixe para beneficiamento. Dentro das empresas os impostos são recolhidos de acordo com a quantidade comprada e o tipo de beneficiamento segue uma tabela de preços. Se o comprador quer o tipo Inteiro, quando o peixe é lavado e congelado, ele vai pagar R$0,75 por quilo; se optar pelo tipo HG, quando se tira a cabeça, lava e congela, ele pagar R$0,90 por quilo e se optar pela opção do filé, terá que desembolsar R$1.40 por quilo. Esta tabela é da Cunhaú Pesqueiro LTDA.

Bandeiras pretas são os marcadores de rede de pesca,
a cada mil metros uma é fincada para sinalizar as redes que não saem
pra alto mar com menos de 900 metros.


Os peixes mais comercializados são pescada amarela, gurijuba e pargo, com rede de malha grossa e corvina, peixe pedra, pirabema e bagre, com rede de malha fina.
IBAMA e a SEAP – Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca, são os órgãos governamentais responsáveis pela expedição do calendário de defeso e por monitorar através de aparelhos de localização as embarcações para que não pesquem em áreas de proteção ambiental, berçários ou áreas de desova. O rio Cassiporé é uma dessas áreas.
A engenheira de pesca, Evanéia Oliveira, da empresa Calçomar, atenta para a importância do beneficiamento ser feito em Calçoene: as estatísticas de quantidade e do tipo do pescado comercializado são precisas e toda a receita gerada com os impostos fica na própria cidade.
Para atender o pequeno comprador o beneficiamento é feito às proximidades da embarcação. Muitos podem pensar que o vendedor é muito gentil em tratar do pescado para o comprador local, mas por trás disso há um outro importante comércio: o do grude, ou “da grude” como dizem os calçoenenses. É que o vendedor retira para si este importante órgão que dependendo do tamanho pode valer mais que o próprio quilo do peixe.

Atendendo a pequenos compradores, os pescadores tratam
dos peixes próximo às embarcações

Segundo os pescadores, o grude é um “órgão interno do peixe que fica colado ao espinhaço e serve para fazer cola”. Mas, na verdade, a importância do grude vai além da fabricação de cola. O grude é a bexiga natatória do peixe, ou seja, controla o seu nível de flutuação. Quando cheia de ar permite que o peixe se aproxime da superfície e quando seca permite que ele chegue as profundezas do oceano. Na edição 1 738 - 13 de fevereiro de 2002, a revista VEJA publica a seguinte informação sobre o grude. “O grude é iguaria gastronômica na China. Os ingleses compram o produto para usá-lo como filtro e clareador de cerveja. As mesmas bolsas são matéria-prima para colas de alta performance nos EUA e na Alemanha. Depois de processado e transformado em lâminas como as de gelatina, o grude ganha o nome de issinglass e pode ser utilizado na composição de medicamentos, cosméticos, filmes fotográficos, móveis, instrumentos musicais e varas de pescar de grande resistência, em diversos países. "Os empregos dessas membranas são tantos que ainda não foi possível catalogar todos", diz a pesquisadora Rosália Cotrim, do órgão que coordena pesquisas sobre pesca na Região Norte, o Cepnor. Em 2001, a exportação de grude atingiu mais de 200 toneladas pelos portos do Pará e do Amapá. Esse negócio movimentou três vezes mais dinheiro que o comércio normal de gurijuba e pescada-amarela nesses portos. Segundo o exportador Roberto Braga, de Belém, é a China que paga os melhores preços pelo produto. "Os pratos preparados com isso têm aspecto horrível, mas os chineses adoram", conta Braga. "Para eles, é como o nosso filé." "

 
 
Atualmente,em Calçoene, o valor de um quilo de grude custa R$200,00. Mas o preço varia no mercado, assim como varia o quilo do ouro, a cotação do dólar, etc. Pescada Amarela e Grurijuba são peixes grandes que têm as maiores grudes, daí o interesse do vendedor em tratá-los.  

A grude.
Para ser vendida deve primeiramente ser limpa,
amassada ( geralmente com os pés ) e secada ao sol por aproximadamente 2 dias

Com pescadores registrados na associação da categoria, a fiscalização governamental atenta para a exploração racional e um generoso oceano... oxalá o peixe faça por Calçoene o que o ouro em cem anos não fez.

Muito mais de Calçoene !!!!

Samaumeira – Ceiba pentandra (L.) Gaertn
Família: Bombacaceae


Às margens do rio Calçoene, uma majestosa samaumeira destaca-se na vegetação. Dela brota uma espécie de vagem não comestível cujas sementes são envolvidas pela paina, uma pluma semelhante ao algodão, denominada Kapok. No devido tempo a vagem cai e se rompe no choque com o solo, o “floco de algodão” sai e é levado pelo vento indo pousar nos matagais. Estes ficam cobertos pela substância, é quando mulheres e crianças coletam os flocos para encher travesseiros e colchões.

Minhas sobrinhas Tamires e Andreza, aprendendo com o avô, Nicomedes, a primeira lição para saber como se comportar ao tomar banho de rio: “Água não tem cabelo”


Olha só o que eu encontrei às margens da rodovia. Temendo pela segurança deste indefeso quelônio, levei-o para casa e de tarde procurei uma propriedade às margens do rio para soltá-lo, sob protestos de familiares que queriam vê-lo como manchete na coluna “Menu Tucuju”.


Desta linda casinha em Calçoene, me despeço.
Beijão

8 comentários:

  1. Oi Hélida, parabéns pelo lindo blog sobre coisas da nossa Amazônia.
    Preciso entrar em contato com vc, o mais breve.
    Por favor me escreva para jolasil@gmail.com
    que por lá entrarei em detalhes.
    grande abraço

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  2. Olá, João Lázaro, obrigada pelo gentil comentário e vou entrar em contato com vc.
    meu e mail é helidapennafort@yahoo.com.br

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  3. Mãe, água não tem cabelo, mas tem aqueles matinhos \o/

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  4. Mas na cachoeira do Firmino não tem matinho, não.
    :P

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  5. Poderia me informar os frigorícos de pesacdos/camarão em claçoene?
    Antecipadamente meus agradecimentos. Parabéns pelo blog.

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  6. Boa tarde, parabéns pelo blog procuro muito o grude de peixe poderia me passar algum contato. antoniochalies2@hotmail.com

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  7. Alguém tá enriquecendo com o comércio do pescado e não é o pescador!

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  8. Alguém tá enriquecendo com o comércio do pescado e não é o pescador!

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