sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Aniversário do Hélio Pennafort

Papai, na Rádio Educadora ( década de 70 )



Se papai fosse vivo, teria completado ontem, 21 de janeiro, 72 anos. Nascido e criado no Oiapoque era o filho mais velho do segundo casamento de minha avó Bibo com meu avô, Roque.



Segundo meu tio Ciro Pennafort me contou uma vez, papai, quando criança, valia-se da astúcia própria de irmãos mais velhos: escondia-se atrás das portas para dar “cacholetas” ( eu acho que é assim que se escreve ) no desprevenido tio Ciro, cujas orelhas de abano eram uma verdadeira tentação ao espírito malino que habita em garotos.



Adorava o Oiapoque, mas sempre dizia que um dos lugares mais bonitos do Amapá era Cachoeira Grande ( entre os municípios de Amapá e Calçoene )..."Temos num só lugar a cachoeira, a praia e o bosque"... assim justificava.



Com um gosto impecável para música era um ardoroso fã de Chico Buarque. “Roda Viva” era sua composição favorita. E embora sem nenhum conhecimento teórico de música erudita, era um tremendo ouvido para esta, a ponto de ir às lágrimas nas primeiras notas de “Tristesse” ( F. Chopin ).
 
Roda Viva ( Chico Buarque )

Tem dias que a gente se sente

Como quem partiu ou morreu

A gente estancou de repente

Ou foi o mundo então que cresceu.



A gente quer ter voz ativa

No nosso destino mandar

Mas eis que chega a roda viva

E carrega o destino prá lá.



Roda mundo roda gigante,

Roda moinho roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração



A gente vai contra a corrente

Até não poder resistir

Na volta do barco é que sente

O quanto deixou de cumprir

Faz tempo que a gente cultiva

A mais linda roseira que há

Mais eis que chega a roda viva

E carrega a roseira pra lá.



A roda da saia mulata

Não quer mais rodar não senhor

Não posso fazer serenata

A roda de samba acabou.

A gente toma a iniciativa

Viola na rua a cantar

Mais eis que chega a roda viva

E carrega a viola pra lá



O samba, a viola, a roseira

Um dia a fogueira queimou

Foi tudo ilusão passageira

Que a brisa primeira levou

No peito a saudade pratica

Faz força pro tempo parar

Mas eis que chega a roda viva

E carrega a saudade pra lá
 
Papai e mamãe ( Rita Pennafort ), nos primeiros anos de casados.

Cerâmica - Maruanum

Como estou de férias, esta semana me dei ao luxo de ir ao Carmo do Maruanum comprar uma saladeira de cerâmica. Parece coisa de louco enfrentar esta estrada para comprar um utensílio doméstico vendido em muitas importadoras daqui.

Fotos: Flávia Pennafort

Mas a minha saladeira não é uma qualquer, dessas que são fabricadas aos milhares. Ela é especial porque é feita pelas mãos de uma doce artesã daquela comunidade, que misturando o barro com a casca do Caripé* não poupa habilidade em moldar tigelas, vasos, copos, colheres, fogões, caramuchés... Cara.... o quê?? É, eu tampoco o conhecia. Caramuché parece nome de bicho, tem até a forma de um porco, mas é somente uma lamparina feita de barro: joga-se o azeite pelo orifício de cima e coloca-se o pavio pelo bico da frente. Prontinho... É claro que o caramuché vai para a minha estante de artesanatos.

É um porco? É um vaso? É um achado arqueológico? Não! É apenas um caramuché!

As artesãs do Maruanum têm o incentivo do governo municipal que cedeu uma casa para a venda das peças de cerâmica na própria comunidade, mas podemos encontrar as mesmas peças na Casa do Artesão em Macapá.


Artesã Castorina: uma simpatia só no atendimento, explica que as peças são feitas a partir da mistura do barro com a casca do Caripé*, e depois de queimadas são vernizadas na sua parte interior com a resina da Jutaicica ( Jutaí* ). A camada de verniz além de dar uma sofisticada aparência nas colheres e tigelas também facilita a higienização das mesmas.


Verde e com um relevo um tanto íngreme. É assim o trecho Macapá - Maruanum, da rodovia BR156 

*No dicionário Aurélio, temos a definição de Caripé como: [do tupi, possivelmente] Arvoreta da família das rosáceas ( Licania scabra ), de flores pequenas, panículas auxiliares ou terminais,com sépalas de pêlos alvos.
 
*Jutaí: ( Jataí ) Árvore da família das leguminosas ( Hymenaea courbaril ) da Amaz. e N.E.,. de folhas com dois foliolos coriáceos, flores vistosas, amarelas e mais ou menos cimosas, e cujo fruto é grossa e longa vagem que contém arilo farináceo comestível. O tronco cede resina adequada à fabricação de verniz.
 
 
Residência na comunidade do Carmo do Maruanum



Os campos verdejantes às margens da BR156, no trecho Macapá - Maruanum é um capítulo à parte: merecem destaque por mais parecerem um tapete. É uma pena as garças não chegarem mais perto para um "close".