segunda-feira, 29 de março de 2010

Serra do Navio - em fotos de Ana Flávia


Rio Amapari, banha o município de Serra do Navio.



Mãe e filhas atravessando o rio Amapari


Com suas belas corredeiras, Serra do Navio tem uma floresta densa e rica em espécies.


Uma névoa típica sai da floresta.

segunda-feira, 22 de março de 2010

O Povo Daqui - PARTE V - cont. Trabalho e Costumes

A Comunidade de São Raimundo da Foz do Rio Pirativa, situada a aproximadamente 1h 30m de barco a partir do Porto de Santana tem nas roças de mandioca a base de sua subsistência.
Francisco Siqueira do Nascimento, 67 anos, agricultor.

A pequena comunidade, com menos de dez famílias, divide uma passarela às margens do rio Pirativa e cultiva a mandioca para a fabricação de farinha que vende nas feiras do produtor em Macapá.

Com o dinheiro arrecadado com a venda do produto eles compram outros itens básicos de alimentação como feijão, arroz, carne ...

A vila é abastecida com água vinda diretamente do rio, mas as casas têm caixa d´água e os moradores sabem como tratá-la para o consumo saudável. A energia elétrica vem a partir da Companhia Estadual e graças a um programa do governo, é gratuita.

Máquina de ralar mandioca

Seu Francisco mostra o tipiti. Espécie de espremedor de palha, feito a partir do talo do caule do buritizeiro novo, utilizado para escorrer e secar a mandioca depois de ralada.

Dona Maria Luiza Siqueira, 102 anos ( é isso mesmo, 102!! ), moradora mais idosa na vila.

O trecho do rio Pirativa onde esta família mora é pouco piscosa, mas a captura de camarões pelos matapis fornece boa parte da proteína no cardápío ribeirinho.

Subindo o rio Pirativa poucas casas são avistadas. Mas o meio de sobrevivência das famílias não é diferente.

Vera Lúcia, 38 anos, mostra as hortas de cariru e pimenta-de-cheiro.
Arruda e milagre-de-nossa senhora.
Arruda misturada com cachaça é utilizada para aliviar dores de cabeça. O chá da semente do milagre-de-nossa senhora é usado para combater infeccção urinária.

Dona Vera e o marido, são caseiros de uma propriedade às margens do rio Pirativa.
Dona Jovelina Pereira da Silva, 49 anos. Mostra sua horta de pimenta. Ela, o marido e mais 4 filhos vivem em uma casa de apenas um compartimento. Vivem da venda de açai no porto de Santana.

Na propriedade eles cultivam banana, cana, maracujá e gergelim para alimentação da família.
Entre as plantas medicinais: arruda ( dor de cabeça ) e o mucuracá, de onde de faz o banho para combater a panemeira ( azar ).
Uma das filhas de Dona Jovelina, na cozinha da casa, extrai a semente do gergelim*1 utilizada para fazer paçoca ( a semente é torrada, pilada com farinha e açúcar )

*1 gergelim: As sementes de gergelim são ricas em manganês, cobre e cálcio (90mg de cálcio por colher de sopa para sementes integrais (não descascadas) e 10mg para sementes descascadas), e contém Vitamina B1 e Vitamina E. Elas contém um poderoso antioxidante (chamados "lignans" em inglês), que também é anticancerígeno. Elas também contém fitoesteróis, que bloqueam a produção de colesterol. Os nutrientes do gergelim são melhores absorvidos se triturados antes do consumo.

As sementes de gergelim contêm uma grande variedade de princípios nutritivos de grande valor: lípidos (ou gorduras), mais ou menos 52%, praticamente todos eles constituídos por ácidos graxos insaturados, o que lhes confere uma grande eficácia na redução do nível de colesterol no sangue. Entre as gorduras, encontra-se a lecitina, que desempenha um papel importante no nosso organismo. E componente essencial do tecido nervoso, também se encontra no sangue, no sêmen e na bílis e intervém na função das glândulas sexuais.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gergelim


Habitação ribeirinha

segunda-feira, 8 de março de 2010

O Povo Daqui - PARTE V - Ribeirinhos: Trabalho, Alimentação e Saúde


Na foz do rio Matapi vive Dona Socorro, 40 anos. Ela, seu companheiro e sua mãe, Dona Maria da Conceição dividem uma pequena casa de madeira com três cômodos estranhamente divididos. Do pátio de sua casa, nas horas de repouso, Dona Socorro conversa com sua mãe, enquanto ambas apreciam as embarcações subindo e descendo o rio, uma rotina que sempre fez parte da vida delas, uma vez que nasceram e foram criadas às margens do rio Guajará, em Gurupá – PA.


Mesmo com as adversidades que já passou desde o nascimento, com a morte da mãe em decorrência de uma hemorragia pós-parto; até o presente, com uma doença ainda desconhecida que paralisa uma das pernas do marido, impedindo que este exerça seus trabalhos na plantação, coleta de açai, e em outras atividades; Dona Socorro narra todos esses fatos com a hombridade de quem mostra o álbum de retrato de toda a geração da família a um visitante.

A família sobrevive da venda de produtos como: matapi, paneiros, espetos para churrasco, ... além dos produtos da plantação: mandioca, banana, .... Somada a essas fontes de renda, Dona Conceição recebe uma pequena aposentadoria do Governo.

Dona Socorro é uma guerreira, trabalha para o sustento financeiro da família: confecciona matapis, espeto para churrasco, paneiros, pesca e cuida da casa e do marido quando ele adoece.

Com o dinheiro que conseguem da venda dos produtos confeccionados ou cultivados por eles mesmos, compram gêneros alimentícios como: arroz, feijão, carne, leite, óleo ... 

 Matapi*1 e espeto para churrasco são feitos com o tronco da pachuba*2, mas atualmente também o tronco do açaizeiro está sendo usado.

 *1 Matapi: é uma espécie de armadilha para capturar camarões; tem uma forma cilindrica com as extremidades afuniladas para o interior facilitando a entrada do camarão que não consegue mais sair. 
 *2 Pachuba: palmeira típica da várzea.

 Paneiros são feitos com o talo do arumã*3.

 *3Arumã: Ischnosiphon polyphyllus

Dona Maria da Conceição Almeida da Costa, 100 anos ( É isso mesmo! Cem anos!), parteira. Já “pegou”, segundo ela, mais de mil crianças. No contexto ribeirinho, “pegar” significa fazer o parto. “Tem 13 dias que eu peguei o último”, diz ela. “Foi aqui dentro de casa mesmo, ... foi o filho da vizinha”.

Em pleno vigor de suas atividades como parteira, Dona Maria da Conceição conversa, anda, não tem restrições alimentares, só precisa mesmo de ajuda para atravessar a rua quando vai à cidade. Embora sofra esporadicamente crises de asma, o único problema de que se queixa é a falta de visão para longe.

Dona Conceição: 100 anos, parteira.

É mãe de criação de Dona Socorro, a quem “pegou” e recebeu esta do pai que ficou sozinho com a morte da esposa logo após dar à luz. Ele já tinha duas filhas para criar.

A parteira diz que o segredo de tanta longevidade “é que as pessoas de antigamente não se tratavam com remédio de farmácia, elas faziam só chás caseiros".


 Na pequena propriedade da família, bem próximo à casa, eles cultivam limão-caiena e urucum para temperar a comida; bananeiras, e plantas medicinais básicas como o camapú, gengibre, babosa, catinga-mulata, anador.

E seguindo a tradição da mãe, Dona Socorro cultiva camapú, gengibre, babosa, catinga-mulata, anador. Com a raíz do camapu, folhas da quina*6 e do café é preparado um chá para combater a malária; ao gengibi e a babosa acrescenta-se o mel e o resultado é um xarope para combater reumatismo e cansaço no peito ( asma ); com a catinga-mulata são feitos banhos para combater a dor de cabeça e gripe e o anador é usado para chá de caráter analgésico.

Sua casa é beneficiada com um programa governamental que garante energia gratuita para o local, o que trouxe conforto para a família que pode adquirir geladeira, televisão e caixa d´água.

Dona Socorro é feliz! Junto a mãe e o marido levam uma vida tranquila, mas como em muitas regiões ribeirinhas sofrem com a falta atendimento médico-hospitalar. O nosso caboclo precisa de saúde. É com a saúde e , literalmente, o suor do corpo que ele provê o sustento próprio e da família.

*4 limão-caiena: Averrhoa bilimbi L.
*5 urucum: colorau, urucu e açafroa.
*6 Quina: Coutarea hexandra

segunda-feira, 1 de março de 2010

O Povo Daqui – PARTE IV – Ribeirinhos

Habitação


Chamamos de ribeirinhos aos moradores que vivem próximo aos rios ou ribeiras. Com o majestoso sistema fluvial que a Amazônia possui a presença destes nativos à beira do rio, no interior da floresta estimula nossa curiosidade e imaginação. Eles vivem praticamente sem vizinhos, mas conhecem todos os que moram “perto” ( centenas de metros ou mesmo quilômetros de distância).

Quando ao navegarmos nos deparamos frente a uma habitação típica da região, muitas interrogações e exclamações nos vêm à mente: que lindo, viver dentro da floresta, cercado de açaizeiros, com um rio para tomar banho a hora que quiser! Que tranquilidade, o único som que ouvem é o cantar exótico dos pássaros e das folhas das palmeiras que batem uma nas outras conforme a intensidade do vento. Eles não têm medo de morar tão isolados sem ninguém por perto para ajudar em caso de socorro? ....


A Região Amazônica com seus rios e inúmeros igarapés abriga a população ribeirinha formando um cenário onde a primeira vista não se pode distinguir um padrão de vida adequado à vida na floresta, da pobreza. As casas são erguidas, na sua maioria, de madeira; cobertas de telhas de barro, brasilit ou palha. Muitas são pintadas. Além da casa, um “aparelho sanitário” e o trapiche formam a estrutura básica para a moradia.


Os manguezais são uma constante em toda a costa do Estado do Amapá, o solo lamacento dos mangues alimenta o rio de um amarelo barrento que aumenta ainda mais quando avançamos pelo interior dos igarapés.

Viveiro para camarão: uma caixa de tela com abertura na parte superior, por onde o criador joga a ração à base de babaçu.

Transporte

As catraias* são de fundamental importância para a locomoção dos ribeirinhos. Tanto o transporte de pessoas para o trabalho, como o transporte de mercadorias são feitas principalmente por este meio.


Os cascos são utilizados para transporte em trajetos curtos, mas de extrema importância para os moradores dos igarapés, que muitas vezes têm apenas este como meio de locomoção.


Quando a embarcação é pequena, o interessante é seguir o trajeto pelos igarapés cercados de mangues, pois esta área é estreita e não está sujeita a ventos fortes e maresias. É o que o caboclo chama de viagem “por dentro”. Além disso, com um transporte de pequeno porte as manobras de retorno são mais fáceis.

A viagem “por fora” é quando se navega pelos rios ou, como no caso do Amapá, por uma parte do Oceano.

Alexandre Santos, morador da Ilha de Santana, "catraia" desde sempre. Nem ele mesmo se lembra quando começou a trabalhar no transporte de ribeirinhos desde o Porto de Santana.

Esta linda foto eu dedico ao meu amigo Pedro Lobato, que é ribeirinho por DNA.

*Catraia:  embarcação de pouco calado, movida a vela, remo ou do tipo canoa motorizada, que se emprega no transporte de passageiros, e que é geralmente manobrada por uma só pessoa, o catraieiro.