segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Festa em Louvor a São Joaquim - Curiaú

Encerrou nesta quinta-feira mais uma festividade em louvor a São Joaquim, padroeiro da comunidade do Curiaú ( ver postagem: Curiaú – Texto de Fernando Canto, quinta-feira, 17 de dezembro de 2009 ). Com uma tradição de mais de dois séculos, todos os anos, de 09 a 19 de agosto, os moradores cumprem a programação que está dividida em folia e batuque. Sendo que a primeira tem caráter religioso e a segunda, profana.

Foliões tocando viola, pandeiro, xique-xique
e reco-reco acompanham o Mestre-Sala que
faz a marcação do ritmo tocando um pequeno sino,
chamado campa.

A folia consiste no convite em forma de canto para a reza da ladainha, na capela da vila e é presidida pelo Mestre-Sala, auxiliado pelos foliões. O Mestre-sala é a autoridade máxima no decorrer da cerimônia e se diferencia dos demais foliões por usar uma toalha em volta do pescoço.

O Mestre-sala convida os devotos para o incício das obrigações.

"Oh, devoto vamos rezar
A ladainha do Senhor
( Bis )

Ai, vamos nós todos adorar
É o sagrado resplendor
( Bis )

Ai, eu chamei todos os devotos
Ai, já são horas de obrigação
(Bis)"


 A ladainha é rezada em latim desde a formação do quilombo do Curiaú. Conduzida pelo Mestre-sala e respondida em coro pelos devotos. Ao fim da ladainha, o Mestre-Sala canta:

"Já estão rezadas, estão rezadas
Já estão cumpridas as obrigações
(Bis)
...
Bendito é, bendito é
Louvado seja
Bendito é, bendito é
Louvado seja lá na glória
(Bis)
...
Da cepa nasceu a palma
Da palma nasceu a flor
Da flor nasceu São Joaquim
Que é para nós o redentor"

Folia e ladainha formam a parte religiosa da festividade e não mudam no decorrer do período. Mas outros rituais fazem parte desta bicentenária manifestação.

No dia quatorze, é levantado o Mastro que carrega a bandeira de São Joaquim. Cortado das matas do Curiaú este mastro é o mesmo desde o princípio das festividades. Todo ano ele é repintado com as cores branca e azul características da festa.

No dia dezesseis, tem a vez da “Alvorada”, quando às 05:00 h, o Mestre-sala e os foliões se reúnem para as orações. É quando o folião que teve um mal comportamento durante o período da festividade pede perdão pelo ato. Para isso, deve rezar de joelhos um Pai Nosso, uma Ave Maria e um Credo. É quando então os porta-bandeiras o cobrem com os pavilhões e o perdão é concedido.

Quando a folia termina é servido o jantar a todos os participantes. Geralmente um caldo reforçado para dar energias aos dançarinos que ficam até o amanhecer.

O batuque
 
Manifestação de origem africana onde uma arquestra percutível acompanha o "ladrão"*, cantado geralmente por membros mais velhos da comunidade. Os dançarinos giram em volta dos batuqueiros, dançando no sentido anti-horário.
 
Uma fogueira é acesa para aquecer o couro dos instrumentos do batuque:
dois tambores, confeccionados de macacaúba e couro de bois e três pandeiros
 feitos de cacaueiro e couro de bode.


A orquestra do batuque é composta de dois tambores, denominados de repique, o mais fino; e amassador, o maior. São confeccionados todos os anos de macacaúba e couro de bois. Já os pandeiros são feitos a partir da madeira cacau e de couro de bode, ou sucuriju, quando é encontrada.

 
Tão logo começam as primeiras batidas nos instrumentos, as senhoras com suas saias longas e floridas começam a bailar o que é um convite a todos para entrarem na roda do batuque e acompanharem os “ladrões”.
 

As festividades em louvor a São Joaquim demonstram a forte religiosidade dos devotos para com o Santo e o batuque manifesta as raízes africanas tão arraigadas em sua cultura.

*Os cânticos são chamados "ladrões", porque, durante sua execução, um participante "rouba" a "deixa" do outro e, a partir do mote roubado, de forma improvisada, compõe um novo verso.

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