Encerrou nesta quinta-feira mais uma festividade em louvor a São Joaquim, padroeiro da comunidade do Curiaú ( ver postagem: Curiaú – Texto de Fernando Canto, quinta-feira, 17 de dezembro de 2009 ). Com uma tradição de mais de dois séculos, todos os anos, de 09 a 19 de agosto, os moradores cumprem a programação que está dividida em folia e batuque. Sendo que a primeira tem caráter religioso e a segunda, profana.
Foliões tocando viola, pandeiro, xique-xique e reco-reco acompanham o Mestre-Sala que faz a marcação do ritmo tocando um pequeno sino, chamado campa. |
A folia consiste no convite em forma de canto para a reza da ladainha, na capela da vila e é presidida pelo Mestre-Sala, auxiliado pelos foliões. O Mestre-sala é a autoridade máxima no decorrer da cerimônia e se diferencia dos demais foliões por usar uma toalha em volta do pescoço.
O Mestre-sala convida os devotos para o incício das obrigações.
"Oh, devoto vamos rezar
A ladainha do Senhor
( Bis )
Ai, vamos nós todos adorar
É o sagrado resplendor
( Bis )
Ai, eu chamei todos os devotos
Ai, já são horas de obrigação
(Bis)"
A ladainha é rezada em latim desde a formação do quilombo do Curiaú. Conduzida pelo Mestre-sala e respondida em coro pelos devotos. Ao fim da ladainha, o Mestre-Sala canta:
"Já estão rezadas, estão rezadas
Já estão cumpridas as obrigações
(Bis)
...
Bendito é, bendito é
Louvado seja
Bendito é, bendito é
Louvado seja lá na glória
(Bis)
...
Da cepa nasceu a palma
Da palma nasceu a flor
Da flor nasceu São Joaquim
Que é para nós o redentor"
Folia e ladainha formam a parte religiosa da festividade e não mudam no decorrer do período. Mas outros rituais fazem parte desta bicentenária manifestação.
No dia quatorze, é levantado o Mastro que carrega a bandeira de São Joaquim. Cortado das matas do Curiaú este mastro é o mesmo desde o princípio das festividades. Todo ano ele é repintado com as cores branca e azul características da festa.
No dia dezesseis, tem a vez da “Alvorada”, quando às 05:00 h, o Mestre-sala e os foliões se reúnem para as orações. É quando o folião que teve um mal comportamento durante o período da festividade pede perdão pelo ato. Para isso, deve rezar de joelhos um Pai Nosso, uma Ave Maria e um Credo. É quando então os porta-bandeiras o cobrem com os pavilhões e o perdão é concedido.
Quando a folia termina é servido o jantar a todos os participantes. Geralmente um caldo reforçado para dar energias aos dançarinos que ficam até o amanhecer.
O batuque
Manifestação de origem africana onde uma arquestra percutível acompanha o "ladrão"*, cantado geralmente por membros mais velhos da comunidade. Os dançarinos giram em volta dos batuqueiros, dançando no sentido anti-horário.
Uma fogueira é acesa para aquecer o couro dos instrumentos do batuque: dois tambores, confeccionados de macacaúba e couro de bois e três pandeiros feitos de cacaueiro e couro de bode. |
A orquestra do batuque é composta de dois tambores, denominados de repique, o mais fino; e amassador, o maior. São confeccionados todos os anos de macacaúba e couro de bois. Já os pandeiros são feitos a partir da madeira cacau e de couro de bode, ou sucuriju, quando é encontrada.
Tão logo começam as primeiras batidas nos instrumentos, as senhoras com suas saias longas e floridas começam a bailar o que é um convite a todos para entrarem na roda do batuque e acompanharem os “ladrões”.
As festividades em louvor a São Joaquim demonstram a forte religiosidade dos devotos para com o Santo e o batuque manifesta as raízes africanas tão arraigadas em sua cultura.
*Os cânticos são chamados "ladrões", porque, durante sua execução, um participante "rouba" a "deixa" do outro e, a partir do mote roubado, de forma improvisada, compõe um novo verso.
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