segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Povo Daqui - PARTE VII - Costumes, Superstições e Histórias - MAZAGÃO NOVO

Mazagão Novo: frente da cidade

Esta cidade que transborda serenidade fez Seu Gervário Ferreira Vieira, 76 anos, nem sentir vontade de retornar a sua terra natal: Ponte de Pedra  – Ilha do Marajó (PA). 53 anos atrás, quando chegou à Mazagão, começou a trabalhar como agricultor no cultivo de mandioca, milho, arroz, feijão e batata cujo excedente era comercializado em Fazendinha, mas também foi madeireiro até que em 15 de setembro de 1979 entrou para o quadro do Governo Federal como agente de portaria exercendo suas atividades como operador da balsa na travessia do rio Vila Nova. Lá, como ele mesmo diz, foi piloto, cozinheiro, comandante, fazia tudo, a familiaridade que tinha com a embarcação, era maior do que a que tinha com sua casa.


Seu Gervásio e a esposa, Dona Maria Rodrigues Vieira, 70 anos, veêm com serenidade as mudanças tanto no que se refere ao crescimento da cidade quanto nos costumes dos moradores mais jovens.

Lembra ele, que no Mazagão de seu tempo as orações, restrições alimentares e de hábitos relativos à Semana Santa começavam já na segunda-feira e só terminavam quando rompia o Aleluia, no Sábado. Como as famílias não possuiam geladeira e a energia elétrica era fornecida somente até às 21:00h o pescado era salgado na quantidade suficiente para abastecer as mesas durante esse período no qual nenhuma atividade laboral era exercida.

Benzedeiras

Dona Maria, assim como outras senhoras de décadas atrás utilizava também o serviços das benzedeiras e levava os filhos a estas quando sofriam de algum mal, pincipalmente quebranto. Às vezes dava certo, outras vezes não. "Dependia mais da fé", reconhece ela.



Mazaganenses à sombra de uma frondosa árvore botando a conversa em dia

Superstições

Estas, Seu Ponte de Pedra, assim é conhecido Seu Gervásio, não deixou de manter. Não se pode cortar o cajú ou a goiaba com faca: as árvores darão frutos com bicho, na certa. Fazer cocô debaixo das árvores frutíferas também resulta no mesmo. E os agricultores que sofrem a perda de um parente têm que guardar um luto de pelo menos 8 dias do trabalho nas roças para que a safra não apodreça.  

Histórias

Campo de Aviação



A família de Seu Ponte de Pedra mora em frente à Delegacia de Polícia cujo terreno era um campo de pouso de aviões, tipo teco teco. Contam eles que este campo foi palco de histórias de arrepiar sendo que as mais conhecidas dos moradores mais velhos era de que em noites de lua cheia ouvia-se o barulho de um camburão rolando desde o início do campo até um lago que existia centenas de metros de distância. Ou o trotar de cavalos, que só se ouvia também em noites de lua cheia, assombrando os moradores uma vez que não existiam tais animais na vila. "Pareciam correr de uma ponta a outra do campo". Contam os mais antigos que um dos animais quase dá um coice em um rapaz que passava pelo campo.

Ao que parece o camburão e os cavalos prestaram o devido respeito aos policiais que hoje trabalham na Delegacia erguida no antigo campo e não assombram a mais ninguém.

Mas a única história testemunhada pela família que tem como palco o campo de aviação foi a de que nele aterrizou a médica que fez o parto de um dos filhos do casal. O marido era piloto e a trouxe em poucos minutos. “Eu ainda me lembro de vê-la levantar o arame farpado do campo para passar”. Recorda Seu Gervásio.

O desaparecimento da filha do Superintendente e dos garotos Irineu e Tiago
 
Dois casos tristes e intrigantes despontam na memória dos mazaganenses. Ambos datam de aproximadamente 30 anos atrás. O primeiro deles foi o desaparecimento de uma das filhas do Superintende Domingues Valente Barreto que vinha remando com a esposa e as duas filhas gêmeas da localidade de Monte Santo ( Mazagão Velho ) para Mazagão Novo em uma grande embarcação. Além da família outras pessoas viajavam na mesma embarcação. Ao atracarem no porto, para desespero de todos, deram com o sumiço de uma das filhas gêmeas. Tal fato foi difícil de entender e explicar, uma vez que os país vinham cada um em uma das extremidades da embarcação, as crianças estavam no meio e os outros adultos estavam dispostos de maneira a cercá-las. Passaram dias em busca do corpo mas este nunca foi encontrado.
 
O segundo caso, foi dos primos Irineu e Tiago de 8 e 11 anos de idade. As crianças, com as devidas permissões de suas mães foram acompanhar o Senhor Pedro Barbosa em uma de suas caçadas na região do Igarapé do Bispo, um braço do rio Vila Nova. Durante a caçada, Pedro Barbosa deixou os primos em uma área da mata reparando dois catitus ( porco-do-mato ) recém capturados enquanto ia buscar outros, ao retornar não mais encontrou as crianças e no local estavam apenas gravetos os quais foram cortados pelos garotos como passatempo enquanto esperavam por ele. O caçador gritou pela mata o nome dos garotos e não teve resposta. Pensava que os dois tinham ido esperá-lo na embarcação, mas ao chegar na mesma não os encontrou. Retornou então à vila e anunciou o sumiço dos garotos às famílias e às autoridades policiais. Uma equipe de busca formada por policiais, moradores e o próprio PedroBarbosa, foi formada e enviada ao local. A equipe encontrou e matou uma onça, uma capivara e uma ariranha, fez uma reconstituição dos fatos narrados pelo caçador mas não encontrou nenhum sinal de Irineu e Tiago. A família e a comunidade, completamente desconsoladas nada puderam argumentar a favor de um possível assassinato, pois Pedro Barbosa era de um caráter exemplar: "tranquilo, respeitador, não fumava, não era de confusão" e como disse Seu Ponta de Pedra, os tempos eram outros: "não existia violência", a vila era como se fosse uma família só.
 
Dona Maria Rodrigues Vieira e o esposo, Seu Gervásio Ferreira Vieira,
 moram há mais de 50 anos em Mazagão. Nem pensam em deixar a sua tranquila cidade.

 
Igreja de São Raimundo, a primeira da cidade
 
Igreja Nossa Senhora da Assunção

Monumento que lembra a data do início da construção de Mazagão

Um comentário:

  1. amei as fotos, são lindas! mostra a beleza da nossa terra tucuju. gostaria que você escrevesse
    qual o município pertence a cachoeira do Firmino, do Fernando, o balneário do Henrique, etc...tanto eu como outras pessoas gostariamos de conhecer, fiquei com inveja...rsrsrs de você conhecer essas maravilhas...abraços
    Teka Monteiro

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