Na foz do rio Matapi vive Dona Socorro, 40 anos. Ela, seu companheiro e sua mãe, Dona Maria da Conceição dividem uma pequena casa de madeira com três cômodos estranhamente divididos. Do pátio de sua casa, nas horas de repouso, Dona Socorro conversa com sua mãe, enquanto ambas apreciam as embarcações subindo e descendo o rio, uma rotina que sempre fez parte da vida delas, uma vez que nasceram e foram criadas às margens do rio Guajará, em Gurupá – PA.
Mesmo com as adversidades que já passou desde o nascimento, com a morte da mãe em decorrência de uma hemorragia pós-parto; até o presente, com uma doença ainda desconhecida que paralisa uma das pernas do marido, impedindo que este exerça seus trabalhos na plantação, coleta de açai, e em outras atividades; Dona Socorro narra todos esses fatos com a hombridade de quem mostra o álbum de retrato de toda a geração da família a um visitante.
A família sobrevive da venda de produtos como: matapi, paneiros, espetos para churrasco, ... além dos produtos da plantação: mandioca, banana, .... Somada a essas fontes de renda, Dona Conceição recebe uma pequena aposentadoria do Governo.
Dona Socorro é uma guerreira, trabalha para o sustento financeiro da família: confecciona matapis, espeto para churrasco, paneiros, pesca e cuida da casa e do marido quando ele adoece.
Com o dinheiro que conseguem da venda dos produtos confeccionados ou cultivados por eles mesmos, compram gêneros alimentícios como: arroz, feijão, carne, leite, óleo ...
Matapi*1 e espeto para churrasco são feitos com o tronco da pachuba*2, mas atualmente também o tronco do açaizeiro está sendo usado.
*1 Matapi: é uma espécie de armadilha para capturar camarões; tem uma forma cilindrica com as extremidades afuniladas para o interior facilitando a entrada do camarão que não consegue mais sair.
*2 Pachuba: palmeira típica da várzea.
Paneiros são feitos com o talo do arumã*3.
*3Arumã: Ischnosiphon polyphyllus
Dona Maria da Conceição Almeida da Costa, 100 anos ( É isso mesmo! Cem anos!), parteira. Já “pegou”, segundo ela, mais de mil crianças. No contexto ribeirinho, “pegar” significa fazer o parto. “Tem 13 dias que eu peguei o último”, diz ela. “Foi aqui dentro de casa mesmo, ... foi o filho da vizinha”.
Em pleno vigor de suas atividades como parteira, Dona Maria da Conceição conversa, anda, não tem restrições alimentares, só precisa mesmo de ajuda para atravessar a rua quando vai à cidade. Embora sofra esporadicamente crises de asma, o único problema de que se queixa é a falta de visão para longe.
Dona Conceição: 100 anos, parteira.
É mãe de criação de Dona Socorro, a quem “pegou” e recebeu esta do pai que ficou sozinho com a morte da esposa logo após dar à luz. Ele já tinha duas filhas para criar.
A parteira diz que o segredo de tanta longevidade “é que as pessoas de antigamente não se tratavam com remédio de farmácia, elas faziam só chás caseiros".
Na pequena propriedade da família, bem próximo à casa, eles cultivam limão-caiena e urucum para temperar a comida; bananeiras, e plantas medicinais básicas como o camapú, gengibre, babosa, catinga-mulata, anador.
E seguindo a tradição da mãe, Dona Socorro cultiva camapú, gengibre, babosa, catinga-mulata, anador. Com a raíz do camapu, folhas da quina*6 e do café é preparado um chá para combater a malária; ao gengibi e a babosa acrescenta-se o mel e o resultado é um xarope para combater reumatismo e cansaço no peito ( asma ); com a catinga-mulata são feitos banhos para combater a dor de cabeça e gripe e o anador é usado para chá de caráter analgésico.
Sua casa é beneficiada com um programa governamental que garante energia gratuita para o local, o que trouxe conforto para a família que pode adquirir geladeira, televisão e caixa d´água.
Dona Socorro é feliz! Junto a mãe e o marido levam uma vida tranquila, mas como em muitas regiões ribeirinhas sofrem com a falta atendimento médico-hospitalar. O nosso caboclo precisa de saúde. É com a saúde e , literalmente, o suor do corpo que ele provê o sustento próprio e da família.
*4 limão-caiena: Averrhoa bilimbi L.
*5 urucum: colorau, urucu e açafroa.
*6 Quina: Coutarea hexandra
muito legal essas fotos, tenho um sobrinho que está morando em pedra branca, quem sabe um dia vou lá conhecer.
ResponderExcluirCaro visitante, obrigada pela visita. se for a pedra branca não deixe de conhecer tb serra do navio. Vc pode me enviar um e mail com antecedência q eu lhe darei umas dicas sobre as cidades. um abraço.
ResponderExcluirhelidapennafort@yahoo.com.br