Como
uma forma de homenagear os primeiros profissionais da imprensa
amapaense, escolhi a primeira parte de uma exposição apresentada
por papai no
CONSELHO
ESTADUAL DE CULTURA
A
IMPRENSA NO AMAPÁ
Exposição
feita pelo Conselheiro Hélio Pennafort na Reunião do dia 25 de maio
de 1994.
Pelo
que nos conta a História, a imprensa escrita no Amapá apareceu em
15 de novembro de 1895 com o jornal “Pinsonia”, editado pelo
macapaense Joaquim Francisco de Mendonça Júnior. Depois circulou o
“Correio de Macapá”, fundado pelo maranhense Jovino de
Albuquerque Dinoá, a partir de 3 de maio de 1916. Pelo que se sabe,
a existência desses dois jornais teve pouca duração.
Com
a criação do Território Federal, o Governo colocou em circulação
o jornal “Amapá”, editado pelo Serviço de Imprensa e Propaganda
do Gabinete do Governador, com os objetivos de publicar os atos do
governo e noticiar os fatos mais importantes que ocorriam no
Território e no País, com pequenos e irregulares espaços
destinados também a notícias internacionais.
No
primeiro número, que circulou no dia 19 de março de 1945, o
governador Janary Nunes ocupou grande espaço na primeira página
para uma apologia ao Caboclo da Amazônia. Em certos trechos desse
artigo, ele descamba para a poesia, ao dizer, por exemplo, que se a
mãe não pôde amamentá-lo, o recém-nascido caboclo “toma caribé
ou mingau de macaxeira e, não raro, antes do primeiro aniversário,
já bebeu a cuia do açaí ou da bacaba e provou o sabor do charque
rançoso e do pirarucu seco”. Também nesse jornal saiu a notícia
do projeto de construção da Trans Amapá, “cujo traçado inicial
foi feito pelo general Rondon, ligando os vales dos rios Amazonas e
Oiapoque”, saindo de Macapá para Clevelândia. Fica-se então
sabendo que Trans Amapá foi o primeiro nome da BR-156.
O
esquema de circulação do jornal “Amapá” era perfeito. Com o
apoio das prefeituras municipais, era lido em todo o interior do
Território, aonde chegava com alguns dias de atraso por causa da
irregularidade nos meios de transportes.

O
primeiro diretor do “Amapá” foi o jornalista Paulo Eleutério
Cavalcanti de Albuquerque e a equipe de redatores foi formada por
funcionários do Governo, lotados na Secretaria Geral do Território.
O jornal tinha também colaboradores ilustres. Entre eles os
governadores Janary Nunes, Pauxy Nunes e Ivanhoé Martins. O general
Ivanhoé Martins, vale destacar, foi um dos governadores mais cultos
que o Amapá possuiu. Foi professor da Escola Militar, tendo como um
de seus alunos o presidente Emílio Garrastazu Médici. Foi Adido
Militar do Brasil na França e conferencista da Escola Superior de
Guerra. Ivanhoé comparecia com regularidade às páginas do “Amapá”
com longos artigos onde analisava fatos atuais da vida brasileira e
aproveitava para distribuir lições de civismo e incentivar o amor à
Pátria. Foi durante o Governo do General Ivanhoé Martins que a
Imprensa Oficial teve as suas instalações ampliadas e os
equipamentos modernizados o que possibilitou o aumento da tiragem do
“Amapá”, que passou a circular obrigatoriamente em todas as
repartições do governo e entidades particulares, por recomendação
expressa do Governador.
Grandes
nomes do jornalismo amapaense passaram pela redação do “Amapá”.
Álvaro Cunha, Armando Cunha, Alcy Araújo, Danilo Du Silvan, Carlos
Cordeiro Gomes, Ezequias Assis, Ernani Marinho, Arthur Néri Marinho,
para citar os que me chegam agora à lembrança. E entre os
colaboradores de grande bagagem intelectual, destacamos a figura do
Dr. Aurélio Távora Buarque, que deu uma grande contribuição à
memória regional com seus brilhantes textos sobre a História do
Amapá.
Houveram
várias tentativas de mudar a forma e mesmo a linha editorial do
“Amapá”. No fugaz governo de José Francisco de Moura
Cavalcanti, retiraram as letras góticas do título, que também foi
substituído por “Amapá-Jornal”. Mas depois o jornal voltou à
sua forma original, permanecendo com ela até sair definitivamente de
circulação no início dos anos 70.
A
“Folha do Povo” foi outro jornal que circulou em Macapá durante
a fase do Amapá Território. Mais precisamente entre os anos 58 e
63. O seu objetivo era claro. Exerceu feroz oposição aos
governadores Pauxy Nunes e Terêncio Porto. Saiu de circulação
quando encerrou o período administrativo do Governador Terêncio.
A
História da Imprensa do Amapá não pode ser escrita, porém, sem
uma menção honrosa à “A Voz Católica”, um jornal que em
determinada fase chegou a ser considerado o mais intelectualizado de
toda a Amazônia e ficou conhecido também pela força que
desempenhava como instrumento formador de opinião num momento
especialmente delicado da vida amapaense.
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Padre Caetano Maiello. |
O
jornal teve origem no longínquo Oiapoque. A paróquia daquele
município fazia circular “O Ideal”, editado pelo padre-coadjutor
Jorge Basile, o que motivou o Bispo Prelado Dom Aristides Piróvano a
criar um órgão oficial da Prelazia de Macapá. Para isso, mandou
buscar o padre Jorge Basile em Oiapoque, entregando-lhe a tarefa de
fazer um jornal católico que tivesse como lema “A Caridade e a
Verdade”.
O
jornal foi também dirigido pelo padre Caetano Maiello e teve como
colaboradores nomes de expressão na literatura e no jornalismo.
Sebastião Cunha, Derossy Araújo, Elson Martins, Tito Guimarães,
Ciro Pennafort, Artur Rafael, Fernando Canto e tantos outros mais
misturavam artigos de opinião, crônicas saborosas e poemas
romântico-realistas com notícias paroquiais, programas de
festividades de santos padroeiros, e informes comunitários.
A
distribuição ficava por conta das paróquias. E quando o jornal
trazia algum artigo ou alguma reportagem que merecesse análise
profunda do ponto de vista religioso, era lido nos sermões das
missas dominicais e comentado pelo padre de modo que os fiéis
assimilassem bem a mensagem que o jornal queria transmitir a seus
leitores.
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Elson Martins. |
Dessa
maneira, pela sua posição de vanguarda, pela presença constante da
Literatura, da História, da Poesia, do entretenimento, a “Voz
Católica”, decididamente, foi um dos mais importantes semanários
que já circulara pela Amazônia, com repercussão em outros Estados
brasileiros e até mesmo no exterior. Valeu o esforço da sua equipe
de colaboradores, que trabalhava gratuitamente, movida apenas pelo
desejo de fazer algo de positivo para a formação religiosa,
política e cultural da nossa gente.